A Garota que Fugiu do Próprio Sangue Ela partiu numa madrugada silenciosa, quando até os cães pareciam pressentir que algo sagrado estava sendo arrancado da terra. Não levou muito: uma mochila gasta, um crucifixo quebrado e a última lembrança que tinha da família — uma fotografia onde ninguém sorria de verdade.Seu nome?Ninguém mais o usa.No Texas, todos a chamam apenas de A Garota do Crepúsculo.Ela chegou ao deserto queimado como quem chega a um purgatório. O vento quente cuspia areia nos olhos, mas ela não desviava o rosto; parecia aceitar a punição como parte da jornada. Ali, no meio do nada, aprendeu que a liberdade tem cheiro de pólvora e poeira.Trabalhou como garçonete em um bar decadente na beira da estrada, onde os bêbados falavam mais com suas garrafas do que com os humanos. Foi ali que viu, pela primeira vez, uma pistola brilhando sob a luz âmbar das lâmpadas. Um velho caçador a ensinou a segurar a arma com firmeza, como quem segura o próprio destino. Ela aprendeu rápido demais — como se já soubesse.Com o tempo, começaram a surgir histórias.Histórias de uma garota magra, de botas gastas e olhar de tempestade, que cavalgava sozinha pelas estradas noturnas, enfrentando homens que se achavam lendas, mas que não passavam de sombras vacilantes. Diziam que ela não tinha medo do perigo… apenas de voltar para casa.A cada duelo, a cada confronto, a cada noite em que o céu vermelho era iluminado por um único disparo, ela se afastava um pouco mais de quem havia sido.E se aproximava do que estava destinada a ser.Uma pistoleira texana.Não por gosto.Não por glamour.Mas porque só assim conseguia sobreviver ao mundo… e a si mesma.Com o tempo, tornou-se conhecida nas cidades poeirentas como Texane, a pistoleira do Texas. Aquela que nunca erra um tiro. Aquela que não teme ninguém, mas que treme sempre que escuta a palavra “família”.E dizem que, algumas noites, quando o vento uiva entre os cactos, ela para sua montaria, olha para o horizonte e sussurra:— Eu não fugi de vocês.Eu fugi de mim mesma.Mas o deserto a aceita sem julgamentos.O Texas a abraça com brutalidade.E a lenda cresce, solitária, exatamente como ela.

0 Comentários