Contos Terror Japão
A Menina do Templo Fendido
Terror psicológico, folclore sombrio, atmosfera urbana e gótica japonesa.
O bairro de Minato ainda carregava resquícios de chuva quando Kenji atravessou a rua estreita que levava ao templo esquecido. A cidade inteira estava mergulhada no brilho de neon, mas ali, naquela viela particular, o tempo parecia engasgar. As lâmpadas não iluminavam direito; seus halos ficavam turvos, como se algo respirasse dentro da luz.
O templo, conhecido como Shirokubi no Jinja, tinha a aparência de uma ossada.
A madeira, ressecada, rachava-se como se tivesse tentado gritar por décadas.
E no centro do salão, preso por cordões vermelhos, o sino quebrado.
Kenji vinha fotografá-lo para um projeto de lendas urbanas. Achava tudo folclore exagerado — crianças vendo coisas, histórias repetidas para turistas. Mas quando atravessou o portão, percebeu que havia algo errado.
O ar parecia funcionar diferente ali dentro.
Como se existisse uma pressão invisível, um peso crescente, quase intolerável.
Ele ergueu a câmera.
Clic.
O flash iluminou o salão vazio.
Exceto que não estava vazio.
No canto, uma menina apareceu por um instante — rápida demais para ser humana, lenta demais para ser um reflexo. Usava um quimono vermelho desbotado, os cabelos cobrindo metade do rosto.
O flash apagou.
E ela não estava mais lá.
Kenji engoliu seco, mas deu passos mais profundos para dentro.
— Tem alguém aí? — tentou manter a voz firme.
O som reverberou como se tivesse sido engolido pelas paredes.
Então veio o som.
Um tilintar suave, metálico.
O sino quebrado começou a vibrar, mesmo não tendo badalo.
E a risada.
Uma risada infantil… mas seca, como se tivesse areia nas cordas vocais.
Kenji virou-se rapidamente, mas a menina já estava muito perto — colada a uma das colunas, apenas metade do rosto visível.
— Quer brincar comigo?
Os lábios dela não se moveram.
A voz veio de outro lugar.
De trás do altar? De dentro do sino? De dentro da cabeça dele?
A mão dela esticou lentamente.
E ao esticar, Kenji percebeu que o braço era longo demais. O cotovelo parecia deslocado, o pulso dobrava em ângulos que nenhum corpo vivo deveria dobrar.
O fotógrafo cambaleou para trás.
A menina avançou com passos que não tocavam o chão.
Ele levantou a câmera por instinto, clicou.
O flash revelou algo que o congelou:
Havia pés pendurados no teto. Pequenos, sujos, descalços.
Como se crianças inteiras estivessem presas acima dele, imóveis, flutuando, presas em fios invisíveis.
Ou como se tivessem sido deixadas ali há muito tempo, esperando.
No segundo seguinte, o flash apagou.
E o templo ficou completamente escuro.
— N–não… — Kenji puxou o celular, tentando acender a lanterna.
Mas a lâmpada simplesmente se recusou a ligar.
Uma respiração quente tocou seu pescoço.
E então pequenos dedinhos puxaram sua camisa por trás.
— É a sua vez… — sussurrou a voz infantil, agora multiplicada em várias outras.
Ele correu em direção à saída, tropeçando, arranhando braços e pernas nas tábuas. A porta pareceu distante demais, como se o templo crescesse conforme ele tentasse fugir.
Mas ele conseguiu atravessar o portão.
A rua voltou de repente. Luzes. Carros. Chuva. Gente.
Tudo normal.
Ofegando, ele correu de volta para casa.
Trancou portas.
Fechou janelas.
Jogou a câmera longe.
Mas naquela noite, quando tentou dormir, ouviu… bem ao lado da cama…
O som do sino quebrado.
Um tilintar fraco, arrastado.
E depois, um tap-tap-tap na madeira do chão — como pequenos pés caminhando.
Kenji abriu os olhos.
E viu, à meia-luz, a menina sentada diante dele, com o rosto agora totalmente visível:
Olhos pretos demais.
Como carvão molhado.
Como poços sem fundo.
— Por que correu? — perguntou ela, inclinando a cabeça. — Eu só queria brincar…
A mão dela avançou para o rosto dele, e os dedos se alongaram mais uma vez.
Quando ela tocou sua testa, o ar ficou gelado.
E uma onda de escuridão puxou Kenji para lugar nenhum.
**
Na manhã seguinte, apenas sua câmera foi encontrada nos degraus do templo.
Dentro dela, somente uma foto prestava:
A do interior do templo iluminado pelo flash.
Mas havia algo diferente nela…
Kenji estava na foto.
E a menina segurava seu rosto com ambas as mãos — como se já fosse dela.


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