Chuva forte

O Dia em que o Céu Virou Cinza

Quando ele saiu da escola, ainda havia apenas uma garoa fraca, acompanhada de um vento comum para quem vive no Sul. Nada parecia indicar que o dia se transformaria em algo tão estranho. Mas o céu… o céu tinha um tom diferente, pesado, silencioso demais.

No fim da tarde, a chuva engrossou de repente, como se uma comporta invisível tivesse sido aberta. Pouco depois, o celular dele vibrou com o alerta de temporal e o comunicado do cancelamento das aulas. O coração apertou — ele já tinha passado por tempestades fortes, mas aquela atmosfera parecia carregada de algo mais.

Em casa, começou a se preparar com uma urgência quase automática: juntou pilhas, separou uma lanterna, carregou o carregador portátil e organizou o pequeno “closet-bunker”, onde, nas horas de maior perigo, ele e a família se apertavam. O espaço era minúsculo, mas oferecia uma sensação de proteção impossível de encontrar em qualquer outro cômodo.

A chuva logo se tornou ensurdecedora. As rajadas de vento batiam contra a janela como se tentassem arrancá-la à força. As paredes vibravam com o impacto dos trovões, e o céu, lá fora, se contorcia em nuvens escuras que rodopiavam — sinais de que o ciclone talvez estivesse se formando bem perto dali.

Ninguém sabia ao certo se o ciclone chegou ou não. O que ele sabia era que o temporal veio com violência. Em poucos minutos, a luz caiu. A água também. Restou apenas o barulho das rajadas e o feixe trêmulo das lanternas iluminando a casa.

E ali, naquele breve silêncio entre um trovão e outro, ele teve certeza de que aquele seria um dia impossível de esquecer — o dia em que o céu parecia querer desabar sobre tudo.

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